"A agência que abri em Nova York,
diferentemente do que se poderia normalmente esperar de mim, não é uma agência
de publicidade. É uma agência de relações públicas.
Todas as vezes que falo isso, vejo sempre sobrancelhas levantadas. De
interrogação, de perplexidade ou de dúvida. Mas tenho certeza absoluta de que é
com relações públicas, e não com publicidade, que as empresas brasileiras vão
construir suas marcas no mundo. Afinal, não temos dinheiro para construir
marcas mundiais pagando os imensos custos de mídia de um mercado global caro,
fracionado e complexo.
E não é só isso. Não é só um problema de falta de dinheiro. Não temos cultura
de anunciantes globais. O Brasil sempre foi um país fechado e insular.
Completamente voltado para dentro. Boa parte de nossas exportações são
commodities. Poucas marcas brasileiras são globais. Mas hoje é preciso ser
global até para competir no seu próprio país.
As pessoas vão se tratar no hospital Albert Einstein ou no Sírio-Libanês porque
têm certeza absoluta de que eles são hospitais de padrão global. Porque, se
tivessem alguma dúvida, elas pegariam um avião e iriam se tratar no exterior,
como faziam no passado. Portanto, a construção de uma percepção global de sua
marca, do que você faz, é também uma iniciativa de proteção do seu mercado
interno.
É essa imensa oportunidade, precaução e ferramenta que o Brasil e suas marcas
devem explorar. E explorarei na Africa NY. O exemplo mais eloquente disso é o
sucesso internacional da marca Havaianas, que não foi construído no exterior
com publicidade, mas sim com ações de RP, como sampling, networking.
É difícil, por exemplo, você se hospedar em um bom hotel no Brasil e não ter
uma sandália dessas no armário. Esse trabalho de chinês foi feito pelas
Havaianas. E, como tudo o que é bom, deve ser seguido por outras indústrias
também.
Marcas brasileiras de moda, como Osklen e Lenny, sempre fizeram esse trabalho
de RP divinamente. Sabem tudo do assunto. Exatamente porque nunca tiveram
grandes verbas publicitárias. Por isso, só tinham como projetar suas marcas no
mundo pensando fora da caixa. Fazendo um corpo a corpo agressivo com a imprensa
de moda internacional e construindo com ela um intenso relacionamento.
Ninguém da grande imprensa internacional passa por São Paulo e pelo Rio sem
jantar na casa da Lenny Niemeyer, do Oskar Metsavaht, do Rogério Fasano ou sem
tomar drinques com Monica Mendes e com Paula Bezerra de Mello. Vi a Daslu
construir sua marca no mundo com pouquíssima verba e muitíssima imaginação.
Justamente porque todos esses aqui citados não tiveram, em geral, um vintém
para anunciar. E, portanto, não podiam ficar acomodados, na zona de conforto em
que a publicidade acaba aprisionando a gente.
A capacidade de promover meu trabalho e o de meus anunciantes sempre ajudou a mim
e a eles. Washington Olivetto foi o primeiro publicitário a ter uma compreensão
madura disso.
Antes da palavra “buzz” existir, ele sempre soube fazer “buzz” marketing como
ninguém. Algumas das pessoas mais bem-sucedidas do mundo, independentemente de
serem gênios no que fazem, são gênios em RP. Como Steve Jobs, Madonna, Lady
Gaga, Valentino ou Ralph Lauren.
É com esse olhar que abro minha agência em Nova York. Certo de que é com
relações públicas que a pinga brasileira, o pão de queijo, o design, a água de
coco, o avião da Embraer, o sabonete de óleo vegetal, as praias do Nordeste ou
os arquipélagos do rio Amazonas se tornarão mais conhecidos no mundo.
É munido dessa esperança e dessa audácia que rumo para Nova York, pátria da
publicidade e das relações públicas. Porque,
afinal, 'If you can make it there, you can make it everywhere'."
Nizan Guanaes
O artigo do publicitário foi publicado na Folha de S. Paulo em 27 de setembro de 2011.
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